"Tu incitas [ao homem] para que sinta prazer em louvar-Te; Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti." (Agostinho)

8 de setembro de 2008

UMA ORAÇÃO NÃO RESPONDIDA POR AMOR A NÓS *

(Mt 26:36-46; Mc 14:32-42; Lc 22:39-46)

“Então, foram a um lugar chamado Getsêmani;
ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar. E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai. E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora. E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.” (Mc 14:32-36)
"Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra." (Lc 22:42-44)
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Nos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) temos as narrativas complementares de Jesus orando no Getsêmani. Em vários episódios narrados pelos evangelistas vemos o quanto Jesus era um homem de oração, e oração fervorosa, diga-se claramente. Isso é curioso, pois, se é que algum ser humano pode achar desnecessário orar, esse seria Jesus, pois, afinal de contas ele não só é homem perfeito como também é o próprio Deus, o Filho de Deus. Contudo o vemos constantemente buscando a face do Pai em oração. Jesus orava incessantemente. Orava por horas a fio. Orava especialmente em momentos que antecediam decisões ou acontecimentos importantes.

É inegável que Deus deseja os seus filhos em Sua graciosa presença. Qual Pai, Ele ama ver os Seus filhos se achegarem a Sua face. Ele, como Pai amoroso, se regozija em ver os Seus filhos derramarem seus corações em Sua presença. Se ele se alegra conosco, quanto mais Deus Pai se alegrava em ver o Seu Filho por excelência, Jesus, aqui na Terra voltar-se para o Senhor nos Céus.

Certa vez quando os discípulos pediram a Jesus que os ensinassem a orar ele lhes ensinou por meio do modelo de oração do “Pai nosso” que, embora tenhamos muitas carências e necessidades sentidas, Deus deve ser o centro de nossa oração e não nós mesmos. Ensinou que deve ser feita a vontade de Deus na Terra e no Céu e não a nossa vontade. Se no sermão do Monte (Mt 6:9-15) Jesus ensinou como orar teocentricamente, no Getsêmani ele demonstrou isso na prática até as últimas conseqüências.

Jesus foi ao Getsêmani quando sua prisão já se avizinhava. Ele sabia o que lhe aconteceria. Ele sabia que ele era o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Desde os doze anos de idade, quando foi com seus pais ao templo, ele já havia visto o que isso significava e lá viu os cordeiros sendo degolados e sacrificados a Deus como substituição dos pecados do Povo. E agora era a hora do seu “corpo” tomar o lugar das “sombras” (Cl 2:17) dos rituais antigos. Agora ele iria ser preso, zombado, açoitado sem dó ou piedade; seria levado “como ovelha muda perante seus tosquiadores” (Is 53:7); seria “verme e não homem” (Sl 22:6); os “touros de Basã”, os “cães”, “uma súcia de malfeitores” (Sl 22:12,16a), o cercariam para despedaçá-lo; ‘traspassariam suas mãos e pés’ (Sl 22:16b); ele seria desfigurado como nenhum outro homem (Is 52:14); o Senhor Iahweh, na sua ira, faria cair "sobre ele a iniqüidade de todos nós" (Is 53:6); ele seria “oprimido e humilhado” (Is 53:7); o próprio Iahveh, seu Pai, se agradaria em “moê-lo fazendo-o enfermar” (Is 53:10); logo ele gritaria aquilo que nenhum filosofo, cientista ou teólogo poderá jamais perscrutar: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Sl 22:1, Mt 27:43). Na cruz ele provaria as angustias do inferno. Isso era um grande motivo para que ele temesse e se angustiasse (Mt 26:37), era motivo mais que suficiente para que ele “sentir-se tomado de pavor e de angustia”, pois sua morte seriam uma morte que nenhum ser humano seriam capaz de suportar: provaria a ira finita, embora cruel dos homens; e a ira infinita do Deus justo. Assim, consciente mais do que ninguém daquilo que lhe esperava como ele sempre predisse, ele resolve buscar a face de seu Pai.

Fico tentando imaginar Deus que “é cheio de terna misericórdia e compassivo” (Tg 5:11), vendo Seu Filho Único, eternamente gerado de Sua própria essência, mas agora encarnado como um finito homem, aquele em quem a alma do Pai muito se compraz (Mt 12:18), se achegar a Ele “profundamente triste até a morte” (Mc 14:34) lhe rogando tomado “de pavor e de angustia” (Mc 14:33): “Aba [papai], tudo te é possível; passa de mim este cálice”(Mc 14:36). E de orando intensamente em grande agonia ao ponto de “seu suor se [tornar] como gotas de sangue caindo sobre a terra”(Lc 22:44). Então o Pai lhe dá o silêncio como sua resposta. Embora Jesus estivesse orando em profundo “pavor” e “angústia” ele nunca reivindica, exige ou "toma posse" do que é seu por direito divino, mas faz como ele nos ensinou a fazer: não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26:39) “faça-se a tua vontade” (Mt 6:10; 26:42). Nós sabemos que Deus fez a sua vontade. Jesus foi prezo e tudo que a lei e os profetas falaram sobre ele se cumpriu e nós fomos beneficiados e Deus, em Seu Filho, foi glorificado. Contudo, não creio em um Deus impassível e frio, mas creio que esse momento foi, de alguma forma incompreensível, uma grande "dor" para o Pai ver a agonia de Seu Filho Amado e não lhe atender o clamor.

"Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem." (Hb 5:7-9)

Contudo, fico imaginando, se aquela noção que temos da oração fosse verdadeira. Ou seja, se Deus atendesse a todas as orações; ou mesmo se Deus atendesse a todas as orações apenas dos que têm muita fé e uma vida muito consagrada. Assim, suponhamos se o Pai tivesse se condoído de seu Filho e voltasse atrás no plano que ambos, juntamente com o Espírito, conceberam na eternidade. Se o Pai dissesse para o Filho: “vem para casa, para o teu trono, para a tua glória. Esqueçamos essa idéia de salvação do homem. Afinal, esses humanos não merecem o nosso amor, esse grande sacrifício que eu e tu, meu querido Filho, estamos fazendo. Deixemos para eles mesmos beberem o cálice da minha ira (Sl 75:8; Jr 25:15-16; Ap 14:10). Vem para mim Filho.” O que teria sido de nós? Estaríamos todos no mais profundo inferno, “banidos da face do Senhor e da glória do seu poder.” (2Ts 1:9)

Mas bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que não é um Deus de improvisos, ou um Deus mutável, mas o Deus que faz tudo segundo o seu plano eterno e não conforme a vontade e contingência de suas criaturas. Deus é soberano! Ele não recebe ordens. Ele não muda. Ele não se arrepende como os homens. Ele não é pego de surpresa. Nada escapa ao seu propósito. “Nenhum dos seus planos pode ser frustrado.” (Jó 42.2) O que Deus faz, Ele não decidiu agora, no tempo, mas desde que Ele É, desde que existe, ou seja, eternamente. Também não decidiu baseado na vontade ou vida de Suas criaturas, mas na sua santa, justa e soberana vontade! Ele é Deus!! Por isto Iahweh não responde certas orações, porque é soberano, e porque Ele tem algo melhor para seus filhos.

Por amor, Deus não responde as nossas orações como queremos. Foi por causa de seu amor justo que Ele recusou a oração desesperada de Seu Filho encarnado. Não foi porque Jesus não tinha fé ou porque tinha pouca fé. Não foi porque Jesus não estava com a vida consagrada. Não foi porque Jesus não pediu insistentemente. Mas foi porque não estava em Seu plano eterno, não era a Sua vontade.

No entanto há quem creia e ainda ensine que basta você ter fé ou muita fé, para que sua oração seja respondida imediatamente; ou basta você ter fé e uma vida consagrada, que Deus lhe atenderá. Na verdade o que é ensinado por muitos é que temos direitos diante de Deus e devemos exigi-los e tomar posse deles. Onde está isso na Bíblia? Ouvi um “pregador” orando euforicamente e a igreja repetindo: “Deus, eu quero o meu milagre agora!!!” E repetia: “Agora! Agora! Agora!!!” Esse é o mundo “evangélico”. Onde está isso na Bíblia? Quem ensinou isso a esse povo? Foi isso que Jesus ensinou e fez? Ou é o que Satanás, o pai da mentira, tem ensinado? Onde está a verdadeira e humilde oração: “não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26:39), “faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6:10; 26:42)?

O que a Bíblia ensina é que “esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.” (1Jo 5:14)

Irmãos, estejamos certos de que Deus nos ama. Assim como temos certeza de que Ele ama o Seu verdadeiro Filho, Jesus, embora tenha lhe recusado suas suplicas, da mesma forma como recusa muitas de nossos pedidos. Devemos aprender com Jesus: que mesmo uma oração feita em fé, por uma vida totalmente consagrada, pode ser recusada. Deus fará a Sua vontade e não a nossa, contudo, a Sua resposta é muito melhor do que aquilo que pedimos. Por amor Ele recusa muitas de nossas orações. Por amor a nós Ele recusou uma fervorosa oração de Seu filho amado.

Aprendamos meus amados irmãos, a orar de forma humilde, mas constante e fervorosamente como Jesus orava. Deixemos Deus ser Deus e sejamos apenas humildes filhos que expõem suas necessidades sentidas diante do Pai, mas aguardando que, em Sua soberana e sabia vontade, Ele nos dê a resposta segundo as nossas reais necessidades, conforme Seu plano.

Bendito seja Deus que não atende a todas as nossas orações!
Louvado seja o nosso Pai, porque não atendeu a oração de Seu Amado Filho, para nos dar “copiosa redenção”, para Sua glória e para que gozemos de Sua presença eternamente.
Aleluia. Maranata! “Amém. Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20)

pb. Anderson Abreu

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Adaptada de uma mensagem ministrada por mim no culto de oração de 03/09/2008 na Igreja Presbiteriana de Americanópolis, São Paulo-SP.

Um comentário:

Francisco Castelo Branco disse...

Ola, gostei muito do seu blogue

O meu blogue é www.olhardireito.blogspot.com e gostava que fosse visita-lo.

A partir de 3feira e todas as terças terá uma rubrica de historia