"Tu incitas [ao homem] para que sinta prazer em louvar-Te; Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti." (Agostinho)

14 de outubro de 2008

AH! SE OS “SÁBIOS” SOUBESSEM...


que “sábio”[1] não é aquele que muito estudou e inquiriu,
mas aquele que, mesmo sem estudo, e, mesmo discretamente, considera-se esperto e inteligente, e não aceita críticas e opiniões.
Ó! Se os “sábios” soubessem que,
os sábios, primeiro devem conhecer a si mesmos.
Ah! Se os “sábios” soubessem que os
sábios, mesmo com muito conhecimento,
sabem o tamanho de sua própria ignorância; enquanto que os “sábios”, mesmo com pouco conhecimento, não se acham tão estúpidos.

Quem dera que os “sábios” aprendessem que humildade não é descansar em sua própria ignorância e opinião, mas que, humildade é reconhecer nossas limitações e falta de conhecimento e buscarmos dia após dia, com dedicação, aprendermos um pouco mais, observando, perguntando, lendo e pensando. Pena que os “sábios” são muito “humildes” para aprender, pois, ou se consideram incapazes, ou bastam-se a si mesmos.
Ah! Se soubessem que humildade não é sinônimo de covardia e acomodação.

Oxalá que os “sábios” aprendam um dia que os sábios também erram e que estão sempre aprendendo com seus próprios erros e com os erros dos outros. Mas os “sábios”, são como cães
que voltam a comer o próprio vomito repetidas vezes.

Quem dera que os “sábios” compreendessem a Bíblia que diz:
“é melhor ouvir a repreensão de um sábio,
do que elogios de um estúpido”[2];
que: “a sabedoria é justificada por seus frutos”[3];
que: “a repreensão entra mais fundo no prudente
do que cem açoites no insensato”[4];
que: “melhor é a repreensão franca que o amor encoberto”;
e, principalmente, que: “Leais são as feridas feitas por quem te ama,
mas os beijos de quem odeia são enganosos.”[5]
Tomara que, um dia, os “sábios” aprendam que não é sábio viver elogiando e que críticas e repreensões podem ter um fim proveitoso. Os
sábios aprendem muito mais com as dificuldades e as críticas,
pois “a boca lisonjeira é causa de ruína[6]; o excesso de elogio causa orgulho, acomodação e, por fim, a ruína.

Ah! Uma coisa eu queria que os “sábios” aprendessem:
que a verdade nem sempre está com a maioria, afinal, um relance na história demonstrará que a verdade veio da boca de poucos sábios;
e que estes foram perseguidos pela grande maioria formada pelos “sábios”.
Os grandes mestres sempre foram perseguidos
e até mortos pela verdade que, para os “sábios”, era mentira e tolice. Mas a razão não está com a maioria, só por ser maioria, mas na natureza das coisas.
Os sábios sempre correram o risco da impopularidade
que sempre correm os arautos da verdade.

Somente os peixes mortos se deixam levar ao sabor da correnteza;
somente as folhas secas são levadas de um lado a outro pelo vento;
assim são aqueles que se deixam levar pela moda e consenso daquilo que
a maior parte do mundo considera como bom e verdadeiro.
Ah! Se o "sábio" soubesse estas coisas e viesse a ser sábio!


pb. Anderson J. F. de Abreu


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* Essa postagem é uma edição de um texto escrito originalmente por mim em 2005.

[1] "Sábio" entre aspas é o falso sábio ou que se julga sábio; e sábio sem aspas é o verdadeiro sábio.
[2] Provérbios 27:5
[3] Mateus 11:19
[4] Provérbios 17:10
[5] Provérbios 27:6
[6] Provérbios 26:28

8 de setembro de 2008

UMA ORAÇÃO NÃO RESPONDIDA POR AMOR A NÓS *

(Mt 26:36-46; Mc 14:32-42; Lc 22:39-46)

“Então, foram a um lugar chamado Getsêmani;
ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar. E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai. E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora. E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.” (Mc 14:32-36)
"Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra." (Lc 22:42-44)
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Nos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) temos as narrativas complementares de Jesus orando no Getsêmani. Em vários episódios narrados pelos evangelistas vemos o quanto Jesus era um homem de oração, e oração fervorosa, diga-se claramente. Isso é curioso, pois, se é que algum ser humano pode achar desnecessário orar, esse seria Jesus, pois, afinal de contas ele não só é homem perfeito como também é o próprio Deus, o Filho de Deus. Contudo o vemos constantemente buscando a face do Pai em oração. Jesus orava incessantemente. Orava por horas a fio. Orava especialmente em momentos que antecediam decisões ou acontecimentos importantes.

É inegável que Deus deseja os seus filhos em Sua graciosa presença. Qual Pai, Ele ama ver os Seus filhos se achegarem a Sua face. Ele, como Pai amoroso, se regozija em ver os Seus filhos derramarem seus corações em Sua presença. Se ele se alegra conosco, quanto mais Deus Pai se alegrava em ver o Seu Filho por excelência, Jesus, aqui na Terra voltar-se para o Senhor nos Céus.

Certa vez quando os discípulos pediram a Jesus que os ensinassem a orar ele lhes ensinou por meio do modelo de oração do “Pai nosso” que, embora tenhamos muitas carências e necessidades sentidas, Deus deve ser o centro de nossa oração e não nós mesmos. Ensinou que deve ser feita a vontade de Deus na Terra e no Céu e não a nossa vontade. Se no sermão do Monte (Mt 6:9-15) Jesus ensinou como orar teocentricamente, no Getsêmani ele demonstrou isso na prática até as últimas conseqüências.

Jesus foi ao Getsêmani quando sua prisão já se avizinhava. Ele sabia o que lhe aconteceria. Ele sabia que ele era o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Desde os doze anos de idade, quando foi com seus pais ao templo, ele já havia visto o que isso significava e lá viu os cordeiros sendo degolados e sacrificados a Deus como substituição dos pecados do Povo. E agora era a hora do seu “corpo” tomar o lugar das “sombras” (Cl 2:17) dos rituais antigos. Agora ele iria ser preso, zombado, açoitado sem dó ou piedade; seria levado “como ovelha muda perante seus tosquiadores” (Is 53:7); seria “verme e não homem” (Sl 22:6); os “touros de Basã”, os “cães”, “uma súcia de malfeitores” (Sl 22:12,16a), o cercariam para despedaçá-lo; ‘traspassariam suas mãos e pés’ (Sl 22:16b); ele seria desfigurado como nenhum outro homem (Is 52:14); o Senhor Iahweh, na sua ira, faria cair "sobre ele a iniqüidade de todos nós" (Is 53:6); ele seria “oprimido e humilhado” (Is 53:7); o próprio Iahveh, seu Pai, se agradaria em “moê-lo fazendo-o enfermar” (Is 53:10); logo ele gritaria aquilo que nenhum filosofo, cientista ou teólogo poderá jamais perscrutar: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Sl 22:1, Mt 27:43). Na cruz ele provaria as angustias do inferno. Isso era um grande motivo para que ele temesse e se angustiasse (Mt 26:37), era motivo mais que suficiente para que ele “sentir-se tomado de pavor e de angustia”, pois sua morte seriam uma morte que nenhum ser humano seriam capaz de suportar: provaria a ira finita, embora cruel dos homens; e a ira infinita do Deus justo. Assim, consciente mais do que ninguém daquilo que lhe esperava como ele sempre predisse, ele resolve buscar a face de seu Pai.

Fico tentando imaginar Deus que “é cheio de terna misericórdia e compassivo” (Tg 5:11), vendo Seu Filho Único, eternamente gerado de Sua própria essência, mas agora encarnado como um finito homem, aquele em quem a alma do Pai muito se compraz (Mt 12:18), se achegar a Ele “profundamente triste até a morte” (Mc 14:34) lhe rogando tomado “de pavor e de angustia” (Mc 14:33): “Aba [papai], tudo te é possível; passa de mim este cálice”(Mc 14:36). E de orando intensamente em grande agonia ao ponto de “seu suor se [tornar] como gotas de sangue caindo sobre a terra”(Lc 22:44). Então o Pai lhe dá o silêncio como sua resposta. Embora Jesus estivesse orando em profundo “pavor” e “angústia” ele nunca reivindica, exige ou "toma posse" do que é seu por direito divino, mas faz como ele nos ensinou a fazer: não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26:39) “faça-se a tua vontade” (Mt 6:10; 26:42). Nós sabemos que Deus fez a sua vontade. Jesus foi prezo e tudo que a lei e os profetas falaram sobre ele se cumpriu e nós fomos beneficiados e Deus, em Seu Filho, foi glorificado. Contudo, não creio em um Deus impassível e frio, mas creio que esse momento foi, de alguma forma incompreensível, uma grande "dor" para o Pai ver a agonia de Seu Filho Amado e não lhe atender o clamor.

"Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem." (Hb 5:7-9)

Contudo, fico imaginando, se aquela noção que temos da oração fosse verdadeira. Ou seja, se Deus atendesse a todas as orações; ou mesmo se Deus atendesse a todas as orações apenas dos que têm muita fé e uma vida muito consagrada. Assim, suponhamos se o Pai tivesse se condoído de seu Filho e voltasse atrás no plano que ambos, juntamente com o Espírito, conceberam na eternidade. Se o Pai dissesse para o Filho: “vem para casa, para o teu trono, para a tua glória. Esqueçamos essa idéia de salvação do homem. Afinal, esses humanos não merecem o nosso amor, esse grande sacrifício que eu e tu, meu querido Filho, estamos fazendo. Deixemos para eles mesmos beberem o cálice da minha ira (Sl 75:8; Jr 25:15-16; Ap 14:10). Vem para mim Filho.” O que teria sido de nós? Estaríamos todos no mais profundo inferno, “banidos da face do Senhor e da glória do seu poder.” (2Ts 1:9)

Mas bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que não é um Deus de improvisos, ou um Deus mutável, mas o Deus que faz tudo segundo o seu plano eterno e não conforme a vontade e contingência de suas criaturas. Deus é soberano! Ele não recebe ordens. Ele não muda. Ele não se arrepende como os homens. Ele não é pego de surpresa. Nada escapa ao seu propósito. “Nenhum dos seus planos pode ser frustrado.” (Jó 42.2) O que Deus faz, Ele não decidiu agora, no tempo, mas desde que Ele É, desde que existe, ou seja, eternamente. Também não decidiu baseado na vontade ou vida de Suas criaturas, mas na sua santa, justa e soberana vontade! Ele é Deus!! Por isto Iahweh não responde certas orações, porque é soberano, e porque Ele tem algo melhor para seus filhos.

Por amor, Deus não responde as nossas orações como queremos. Foi por causa de seu amor justo que Ele recusou a oração desesperada de Seu Filho encarnado. Não foi porque Jesus não tinha fé ou porque tinha pouca fé. Não foi porque Jesus não estava com a vida consagrada. Não foi porque Jesus não pediu insistentemente. Mas foi porque não estava em Seu plano eterno, não era a Sua vontade.

No entanto há quem creia e ainda ensine que basta você ter fé ou muita fé, para que sua oração seja respondida imediatamente; ou basta você ter fé e uma vida consagrada, que Deus lhe atenderá. Na verdade o que é ensinado por muitos é que temos direitos diante de Deus e devemos exigi-los e tomar posse deles. Onde está isso na Bíblia? Ouvi um “pregador” orando euforicamente e a igreja repetindo: “Deus, eu quero o meu milagre agora!!!” E repetia: “Agora! Agora! Agora!!!” Esse é o mundo “evangélico”. Onde está isso na Bíblia? Quem ensinou isso a esse povo? Foi isso que Jesus ensinou e fez? Ou é o que Satanás, o pai da mentira, tem ensinado? Onde está a verdadeira e humilde oração: “não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26:39), “faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6:10; 26:42)?

O que a Bíblia ensina é que “esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.” (1Jo 5:14)

Irmãos, estejamos certos de que Deus nos ama. Assim como temos certeza de que Ele ama o Seu verdadeiro Filho, Jesus, embora tenha lhe recusado suas suplicas, da mesma forma como recusa muitas de nossos pedidos. Devemos aprender com Jesus: que mesmo uma oração feita em fé, por uma vida totalmente consagrada, pode ser recusada. Deus fará a Sua vontade e não a nossa, contudo, a Sua resposta é muito melhor do que aquilo que pedimos. Por amor Ele recusa muitas de nossas orações. Por amor a nós Ele recusou uma fervorosa oração de Seu filho amado.

Aprendamos meus amados irmãos, a orar de forma humilde, mas constante e fervorosamente como Jesus orava. Deixemos Deus ser Deus e sejamos apenas humildes filhos que expõem suas necessidades sentidas diante do Pai, mas aguardando que, em Sua soberana e sabia vontade, Ele nos dê a resposta segundo as nossas reais necessidades, conforme Seu plano.

Bendito seja Deus que não atende a todas as nossas orações!
Louvado seja o nosso Pai, porque não atendeu a oração de Seu Amado Filho, para nos dar “copiosa redenção”, para Sua glória e para que gozemos de Sua presença eternamente.
Aleluia. Maranata! “Amém. Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20)

pb. Anderson Abreu

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Adaptada de uma mensagem ministrada por mim no culto de oração de 03/09/2008 na Igreja Presbiteriana de Americanópolis, São Paulo-SP.

29 de agosto de 2008

TUDO EM COMUM - Ricardo Barbosa


No livro dos Atos dos apóstolos há um pequeno trecho que descreve de forma magnífica a natureza e qualidade de vida da primeira comunidade cristã em Jerusalém (At 2.41-47). A descrição é fascinante, impressiona qualquer um que a lê, até mesmo os mais céticos e descrentes. O que vemos ali é o reino de Deus em ação, a concretização da oração que Cristo ensinou: “Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu...”.

Este relato contrasta com a história de uma outra comunidade (Gn 11.4), que decidiu construir uma torre que alcançasse os céus e fizesse seus nomes célebres e famosos. Falavam a mesma língua e tinham um projeto em comum, mas, em vez de criarem uma comunidade, criaram um altar para sua auto-exaltação. Este relato da Torre de Babel está presente na vida de todos nós. Na educação, política, trabalho e nos púlpitos de nossas igrejas, todos nós estamos construindo nossas torres, empenhados em tornar nossos nomes célebres. Queremos construir nosso próprio reino.

O Pentecostes tornou possível o reino de Deus entre nós. O povo de Atos 2 começa a viver o seu êxodo, dá os primeiros passos rompendo com o jeito que se vivia no “Egito” para viver o novo jeito ensinado por Cristo, e faz isto de forma natural e sincera, impulsionado pelo chamado de Cristo e pelo poder do Espírito Santo. A promessa do Espírito não foi para que os primeiros cristãos tivessem poder para se autopromoverem, mas para reafirmarem os feitos e o caráter de Cristo. Era um novo tipo de comunidade que nascia de um novo tipo de pessoa. Muitas vezes queremos uma igreja diferente que nos faça diferentes, mas não queremos ser pessoas diferentes que constroem uma comunidade diferente.

O relato de Atos nos diz que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos…”, que “diariamente perseveravam unânimes no templo”. Alguns tinham largado tudo e dedicado dois anos e meio de suas vidas para seguirem a Cristo. Eles permaneceram em Jerusalém da ascenção até o Pentecostes aguardando a promessa do Espírito. Era uma comunidade de cristãos disciplinados. A graça não se opõe à disciplina; pelo contrário, é a disciplina espiritual que sinaliza nosso desejo espiritual. A igreja sofre quando tentamos viver sob a direção do Espírito Santo, mas sem disciplina, como também sofre quando tentamos viver com disciplina, mas sem o Espírito Santo.

Era uma comunidade totalmente comprometida em tornar Jesus Cristo conhecido. Tudo nela apontava para Cristo. Suas orações, o partir do pão, o cuidado que tinham para com os outros, sua pregação e seu testemunho, a alegria da comunhão, a renúncia dos bens, enfim, tudo em suas vidas e ações apontava para Cristo.

O Êxodo continua. Estamos a caminho do céu. O testemunho dos dois varões vestidos de branco foi: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). O mesmo Jesus que viveu entre nós, morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para nossa esperança vai voltar e estabelecer definitivamente seu reino entre nós. Enquanto isto, somos chamados para ser sal da terra, luz do mundo e ovelhas no meio de lobos. Olhamos para o mundo, cultura, família, juventude, infância, guerra, drogas, prostituição, violência, desesperança, solidão, desespero, e percebemos que a humanidade precisa urgentemente de uma nova esperança.

O problema é que, quando olhamos para a comunidade de Jerusalém, reconhecemos, lá no fundo, um sentimento ambíguo. É um modelo de comunidade que admiramos, mas não queremos. Admiramos o amor sacrifical deles, mas não é este o tipo de amor que buscamos. Admiramos sua vida abnegada, mas não estamos dispostos a abrir mão do que temos por amor ao próximo. Achamos extraordinário o fato de que tinham tudo em comum, mas não abrimos mão de nosso individualismo. Confessamos a doutrina dos apóstolos, mas a negamos na prática. No fundo, não queremos uma comunidade assim. Mas ela é possível e o mundo anseia por ela.

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Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.


29 de julho de 2008

A IGNORÂNCIA DAS ESCRITURAS E A SEDUÇÃO DOS FALSOS PROFETAS

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"Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.

Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais." (2Co 11:3-4)
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O Senhor Jesus, antes de iniciar seu ministério público, foi conduzido pelo Espírito ao deserto “para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1). Note que foi o próprio Deus, o Espírito Santo, quem o conduziu ao deserto com essa finalidade. Ao contrário do que muitos imaginam, Jesus não sofreu apenas três tentações, mas diz o texto de Lucas (4:2): durante quarenta dias sendo tentado pelo diabo.” Ou seja, durante todo o tempo, quarenta dias e noites, Jesus foi tentado. Mas aprouve ao Espírito Santo que ficasse relatado para nós apenas as três últimas.

Penso que essas três tentações têm muito a nos ensinar. Vemos nos textos que narram a tentação de Cristo, que Satanás de fato tenta-nos para que não façamos a vontade de Deus, mas a sua vontade. Mas vemos também que a tentação de Satanás é usada soberanamente pelo próprio Deus. Deus nos prova e, para isso, Ele usa até mesmo a Satanás. Deus é Senhor de tudo. “Ele é o cabeça de todo principado e potestade.” (Cl 2:10b) Os caminhos de Deus são misteriosos, ocultos a nossa compreensão: “Verdadeiramente, tu és Deus misterioso, ó Deus de Israel, ó Salvador.” (Is 45:15) Deus se utiliza de tudo para os seus santos e justos propósitos, “Pois até a ira humana há de louvar-te” (Sl 76:10). (confira 1 Samuel 18:10 e 1Reis 22:19-24.)
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O que é interessante em todas as tentações de Satanás, é que, em todas elas, ele instiga Jesus a fazer uso indevido do poder Divino para o Seu próprio benefício humano. Há quem afirme que, com isso, Satanás estava oferecendo um caminho alternativo para Jesus, um caminho que não o levasse ao sofrimento e a cruz. Não sei o quanto dessa inferência pode estar certa, pois o texto não nos diz nada além das próprias narrativas das tentações, mas o fato é que se Jesus aceitasse as propostas satânicas, isso seria uma desobediência flagrante a Deus e uma obediência a Satanás, semelhante a Adão e Eva. Assim, o segundo Adão (1Co 15:45-49) teria fracassado como o primeiro Adão.

Mas o interessante é como Satanás sempre tenta contradizer as Palavras de Deus. Ele enganou Eva contradizendo flagrantemente as ordens de Deus de não comer do fruto da árvore e disse que eles não morreriam se comessem. Mas com Jesus, podemos notar na última tentação (segundo o relato de Lucas), que Satanás foi bem mais sutil, afinal de contras, Jesus era um adversário muito maior e já havia resistido a todas as demais tentações durante quarenta dias. Satanás, então, usa a própria Palavra de Deus para tentar a Jesus. Satanás pega um texto isolado das Escrituras e o aplica de uma forma absoluta e incondicional. Realmente essa, ao meu ver, foi a mais difícil de todas, pois Satanás usa as próprias Palavras inspiradas de Deus (
Sl 91:11-12) e as lança contra o Senhor Jesus a fim de tentá-lo. Mas Cristo vence, como venceu as demais: ‘manejando bem a palavra da verdade.’ (2Tm 2:15).

Porém, o que temos visto hoje em dia nas igrejas, é que multidões são apanhadas por Satanás nessa última tentação. Pregadores se levantam dizendo falar da parte de Deus e citam versos isolados das Escrituras. Satanás dá de presente aos cristãos e “cristãos” caixinhas de promessas onde a Bíblia é retalhada em pedaços, textos são tirados do seu contexto e propósitos iniciais e são oferecidos ao povo que os aceitam sem o menor discernimento. Afinal de conta, é muito mais fácil ler um verso numa caixinha de promessas do que ler textos inteiros da Bíblia em seu devido contexto. Penso que muitos, no dia do juízo, terão uma grande surpresa que a “caixinha de surpresa” não lhes disse, pois, os textos de juízo, também são uma promessa de Deus para os ímpios que deturpam as Escrituras, mas que as “caixinhas de promessas” não têm. (ver 2Pe 3:16-17).

Pregadores se levantam em todos os lugares e igrejas com textos que viraram chavões como: “Tudo posso [ter o melhor emprego, melhor salário, carros, casas...] naquele que me fortalece.” (Fl 4:13) Prometem riquezas, vida tranqüila, sem doenças... para isso basta comprar as “indulgências protestantes” do “papa Edir Macedo” e seus cardeais e Cia-Ltda. Assim diz Pedro: “também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias [discimuladas, fingidas]; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.” (2Pe 2:3) E Paulo diz: “...homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro. De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (1Tm 6:5)

Esse foi apenas um exemplo de deturpação das Escrituras Sagradas. Seria impossível descrever e refutar todos os disparates que os tais profetas, bispos e apóstolos têm ensinado e prometido ao povo em nome de Deus como se estivessem na Palavra. Prometem o que a Bíblia não promete e proíbem aquilo que ela permite. Mas, muitos, movidos pelos próprios desejos do seu coração enganoso, ouvem o que querem ouvir, pois é do agrado dos seus ouvidos (1Tm 4:3). Muitos, movidos por amor ao dinheiro são pegos pelos exploradores da fé. Outros, que vivem atrás das experiências místicas, são apanhados por todo tipo de excentricidade que daqueles que lhes prometem uma “experiência espiritual”. A Igreja Evangélica precisa acordar desse sono terrível e perceber que isso que tem sido oferecido não é o evangelho de Cristo, nem a Palavra de Deus. A Igreja Evangélica precisa começar a questionar a “infalibilidade papal” desses pretensos pastores, bispos, profetas e apóstolos que torcem a Palavra de Deus e implantam todo tipo de tradição humana. Só porque um texto citado por alguém está na Bíblia, não significa que a aplicação desse texto esteja certa e condizente com o restante das Escrituras.

O que acontece hoje em dia, é que, quando questionamos um ensino, profecia ou práticas, muitos atiram aquela frase em nosso rosto: “cuidado com a blasfêmia contra o Espírito Santo!” Uma aplicação descuidada e fora de contexto do que Jesus ensinou sobre a verdadeira blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt 12:31). Esse texto não pode ser usado pela Igreja para acolher heresias e acobertar falsos profetas e milagreiros. A Igreja tem que pôr a prova os espíritos (1Jo 4:1) que falam através de falsos profetas. Mas as pessoas têm andado tão extasiadas pelas experiências místicas e fantásticas e as palavras empolgantes de muitos pregadores que não julgam mais nada. Aceitam tudo que lhes é oferecido, desde que a promessa seja boa ou o pregador seja eloqüente.

Digo mais, a Igreja Evangélica, assim como aconteceu com a Igreja Católica Romana, tem caído sobre a tentação de Satanás. Deus tem provado o seu povo e esse tem sido reprovado. Em Deuteronômio 13:1-5 está escrito: “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos achegareis. Esse profeta ou sonhador será morto, pois pregou rebeldia contra o SENHOR, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para vos apartar do caminho que vos ordenou o SENHOR, vosso Deus, para andardes nele. Assim, eliminarás o mal do meio de ti.”
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Eu sempre achei esse texto intrigante. Isso porque ele vem antes de Dt 18:20-22, onde diz que, falso profeta, é aquele cuja palavra não se cumpre. Ou seja, o primeiro critério para se identificar um falso profeta não é aquele cuja palavra não se cumpre, mas aquele cuja palavra se cumpre, mas com o seu ensino (promovido pelo sinal e prodígio) contradiz ou ensina algo contrário aquilo que Deus já revelou anteriormente em sua Palavra. Interessante também, é que o texto afirma que é o próprio SENHOR (Javé) quem está provando o seu povo. Os sinais e prodígios na Bíblia sempre tinham a função primária de autenticar e chamar a atenção do povo para um profeta. Foi assim no AT e no NT com Jesus e os Apóstolos (At 2:22 e 4:29-30). O texto de Dt 13:1-5 não explica se o sinal ou prodígios são verdadeiros ou falsos (verdadeiros apenas aos olhos de quem observa credulamente), mas diz claramente que é Deus quem permite ou decreta que isso ocorra para servir de prova (teste) ao povo. Em 2 Tessalonicenses 2:9-12 diz: “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça.” Esse texto também diz que é Deus quem determina que os falsos profetas (aqui o anti-cristo) surjam, façam sinais e prodígios a vista de muitos. Aqueles que ao invés de prestarem atenção a Palavra Revelada e Escrita de Deus, mas sempre são movidos pelo afã do sobrenatural, gostam de ver milagres e onde tem um sinal eles correm atrás deixando a Pura Verdade de Deus na Bíblia. Esses serão julgados e condenados, porque não foram aprovados, não passaram no teste, não eram eleitos. É isso que tem ocorrido no meio cristão. O povo vai atrás dos milagreiros, dos falsos sinais e prodígios e crêem nos falsos profetas sem o mínimo de discernimento para avaliar cuidadosamente se os ensinamentos deles estão de fato nas Escrituras Sagradas. Mas preferem a mentira que é mais fantástica e extasiante. “Como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia”, assim também muitos são corrompidos na sua mente e se apartam da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Só porque um pregador tem nome de evangélico, diz ser pastor (se bem que pastor já não tem mais valor. O agora está na moda e impõe respeito são os títulos indevidos de profeta, bispo e apóstolo), usa a Bíblia, fala em nome de Jesus... ai, todos acreditam e seguem. As coisas não são mais julgadas pela sua essência, mas pela aparência e rótulos. Eu nem tenho mais coragem de falar a vontade que sou evangélico, porque tudo tem cabido nesse rótulo, tudo que surge e é inventado de mais extravagante é "evangélico" e ninguém questiona a essência, pois só vivem de rótulos e aparência. Pregam “outro Jesus”, com um “espírito diferente” em um “evangelho diferente” e as pessoas “de boa mente o” toleram simplesmente porque usam as mesmas palavras (Jesus, Espírito, Evangelho, Igreja, Bíblia, Evangélico...), mas com significado e conteúdo diferente ou deturpado. A Igreja Evangélica tem falhado em examinar “as Escrituras todos os dias para ver se as coisas são, de fato, assim.” (At 17:11) A Igreja tem aceitado todo tipo de caricatura do evangelho genuíno, apenas porque se parece com o evangelho. O povo não tem tido discernimento para avaliar as coisas profundamente e pela sua essência. O coração cheio de desejos deturpados e egoístas do povo tem sido preza dos falsos mestres e profetas. Deus tem provado, Deus tem mandado a operação do erro com prodígios e sinais e a “igreja” tem ido atrás dos falsos mestres que falam o que gostam de ouvir e serão julgados se não voltarem para a “simplicidade e pureza devidas a Cristo.”

Mas, em tudo isso, permanecem as belas e consoladoras palavras do Senhor Jesus:

“...surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito.” (Mt 24:24-25)

“Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora. Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz; mas de modo nenhum seguirão o estranho; antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. (...) Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim... Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. (
Jo 10:2-5, 14, 26-28)

Sola Scriptura! Solus Christus!
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Pb. Anderson J. F. Abreu

14 de julho de 2008

A MANHÃ EM QUE EU OUVI A VOZ DE DEUS - John Piper

"Enquanto eu orava e meditava, de repente aconteceu. Deus disse, "Venha e veja o que eu fiz." Não havia a menor dúvida em minha mente de que estas eram mesmo palavras de Deus."

Deixem-me falar-lhes sobre uma experiência das mais maravilhosas que eu tive na manhã de segunda-feira, 19 de março de 2007, pouco depois das seis da manhã. Deus falou de verdade comigo. Não há nenhuma dúvida de que era Deus. Eu ouvi as palavras em minha cabeça com a mesma clareza com que a memória de uma conversa passa pela consciência. As palavras eram em inglês, mas elas tinham sobre si uma absoluta auto-autenticação da verdade. Eu estou certo sem a menor sombra de dúvida de que Deus ainda fala hoje.

 
Eu não conseguia dormir por alguma razão. Eu estava em Shalom House no norte de Minnesota em um retiro de casais. Eram aproximadamente cinco e trinta da manhã. Fiquei lá deitado decidindo se eu deveria me levantar ou esperar até que pegasse no sono novamente. Por Sua misericórdia, Deus me tirou da cama. Estava ainda muito escuro, mas eu consegui achar minha roupa, vesti-me, peguei minha pasta, e saí suavemente do quarto sem acordar Nöel [esposa de John Piper – N.T.]. Na sala principal lá embaixo, estava tudo absolutamente tranqüilo. Ninguém mais parecia estar acordado. Assim eu me sentei em um sofá num canto para orar.
 
Enquanto eu orava e meditava, de repente aconteceu. Deus disse, "Venha e veja o que eu fiz." Não havia a menor dúvida em minha mente de que estas eram mesmo palavras de Deus. Naquele mesmo instante. Naquele mesmo lugar no século vinte e um, no ano 2007, Deus estava falando comigo com autoridade absoluta e realidade auto-evidenciada. Eu parei para tentar entender a dimensão do que estava acontecendo. Havia uma doçura naquilo tudo. O tempo parecia ter pouca importância. Deus estava próximo. Ele estava me vendo. Ele tinha algo a dizer para mim. Quando Deus se aproxima, a pressa deixa de existir. O tempo pára.
 
Eu queria saber o que ele quis dizer com "Venha e veja". Ele me levaria a algum lugar, como fez com Paulo levando-o ao céu para ver aquilo que não pode ser descrito? Será que "ver" significava que eu teria uma visão de alguma grande obra de Deus que ninguém jamais havia visto? Não estou certo de quanto tempo decorreu entre a palavra inicial de Deus, "Venha e veja o que eu fiz", e as palavras seguintes. Não importa. Eu estava sendo envolvido no amor da comunicação pessoal com Ele. O Deus do universo estava falando comigo.
 
Então ele disse, tão claramente quanto qualquer palavra que alguma vez tenha entrado em minha mente: "Fiz coisas tremendas para com os filhos dos homens!". Meu coração acelerou, "Sim, Senhor! Tu és tremendo em todas as tuas obras. Sim, para com todos os homens quer eles percebam isto ou não. Sim! E agora? O que mais me mostrarás?"
 
As palavras vieram novamente. Tão claramente quanto antes, mas cada vez mais específicas: "Converti o mar em terra seca; atravessaram o rio a pé; ali, eles se alegraram em Mim". De repente percebi que Deus estava me levando de volta milhares de anos no tempo, até a época em que ele secou o Mar Vermelho e o Rio Jordão. Eu estava sendo transportado na história, pela palavra dEle, até essas grandes obras. Era isso que Ele queria dizer quando disse "Venha e veja". Ele estava me conduzindo ao passado pelas Suas palavras até essas duas gloriosas obras que ele fez diante de crianças e homens. Estas eram as "coisas tremendas" a que Ele havia se referido. O próprio Deus estava narrando as poderosas obras de Deus. Ele estava fazendo isso para mim. Ele fazia isto com palavras que estavam ressoando em minha própria mente.
 
Então me cobriu uma maravilhosa reverência.
 
Uma palpável paz desceu sobre mim. Este era um momento santo e um lugar santo do mundo ali no norte de Minnesota. O Deus Todo-Poderoso tinha descido e estava me dando a quietude, a abertura e a disposição de ouvir a Sua voz. Enquanto eu me maravilhava do Seu poder para secar o mar e o rio, ele falou novamente: " Os meus olhos vigiam as nações, não se exaltem os rebeldes."
Isso era empolgante. Era muito sério. Era quase uma repreensão. No mínimo uma advertência. Ele poderia da mesma forma ter me arrastado pelo colarinho, me erguido do chão com uma mão, e ter dito, com uma mistura incomparável de ferocidade e amor, "Nunca, nunca, nunca te exaltes a ti mesmo. Nunca te rebeles contra mim."
 
Eu sentei, olhando para o vazio. Minha mente estava cheia da glória universal de Deus. "Meus olhos vigiam as nações." Ele tinha dito isto para mim. Não era só que ele tinha dito. Sim, isso já seria glorioso. Mas ele tinha dito isto para mim. As próprias palavras de Deus estavam em minha cabeça. Elas estavam lá em minha cabeça da mesma maneira que as palavras que eu estou escrevendo neste momento estão na minha cabeça. Elas foram ouvidas tão claramente quanto se neste momento eu recordasse que minha esposa havia dito, "Desça para jantar assim que estiver pronto." Eu sei que aquelas são palavras da minha esposa. E eu sei que estas são palavras de Deus.
 
Pense nisso. Maravilhe-se com isso. Trema diante disso. O Deus cujos olhos vigiam as nações, como algumas pessoas vigiam o gado ou o mercados de ações ou locais de construção - esse Deus ainda fala no século vinte e um. Eu ouvi as próprias palavras dEle. Ele falou pessoalmente comigo.
 
Que efeito teve isso sobre mim? Encheu-me de um senso renovado da realidade de Deus. Assegurou-me mais profundamente de que ele age na história e no nosso tempo. Fortaleceu minha fé de que ele é por mim e cuida de mim e usará o seu poder universal para tomar conta de mim. Por que mais ele viria e me contaria essas coisas?
 
Aumentou meu amor pela Bíblia como a verdadeira palavra de Deus, porque foi pela Bíblia que eu ouvi estas palavras divinas, e através da Bíblia eu tenho experiências como estas quase diariamente. O próprio Deus do universo fala em cada página à minha mente – e à sua mente também. Nós ouvimos as Suas próprias palavras. Deus mesmo multiplicou as Suas obras e Seus pensamentos maravilhosos para nós; ninguém pode se comparar a ele! Eu quisera anunciá-los e deles falar, mas são mais do que se pode contar. (Salmo 40:5).
 
E, melhor de tudo, eles estão disponíveis a todos. Se você quiser ouvir as mesmas palavras que eu ouvi no sofá no norte de Minnesota, leia o Salmo 66:5-7. Foi ali que eu as ouvi. Quão preciosa é a Bíblia. É a própria palavra de Deus. Nela Deus fala em pleno século vinte e um. Ela é a própria voz de Deus. Por esta voz, Ele fala com verdade absoluta e força pessoal. Por esta voz, Ele revela a Sua transcendente beleza. Por esta voz, Ele revela os segredos mais profundos de nossos corações. Nenhuma voz pode em qualquer lugar e a qualquer tempo ir tão fundo ou erguer-se tão alto ou levar tão longe quanto a voz de Deus que nós ouvimos na Bíblia.
 
É uma grande maravilha que Deus ainda fale hoje através da Bíblia com maior força, maior glória, maior certeza, maior doçura, maior esperança, maior orientação, maior poder transformador e maior verdade cristocêntrica do que pode ser ouvida de qualquer voz em qualquer alma humana no planeta fora da Bíblia.
 
É por isso que fiquei triste com o artigo "My Conversation with God" ("Minha Conversa com Deus" – N.T.) na Christianity Today (Cristianismo Hoje – N.T.) deste mês. Escrito por um professor anônimo de uma "conhecida Universidade Cristã", conta a sua experiência de ouvir Deus. O que Deus disse era que ele deveria dar todos os royalties de um novo livro para pagar os estudos de um estudante necessitado. O que me deixa triste sobre o artigo não é que não é verdade ou que não aconteceu. O que me entristece é que realmente dá a impressão de que a comunicação extra-bíblica com Deus é infinitamente maravilhosa e fortalecedora da fé. O tempo todo, a supremamente gloriosa comunicação do Deus vivo que pessoalmente e poderosamente e transformadoramente explode todos os dias no coração receptivo através da Bíblia é ignorada em absoluto silêncio.
 
Tenho certeza que esse professor de teologia não quis dizer isso deste modo, mas o que ele disse de fato foi: "Durante anos ensinei que Deus ainda fala hoje, mas não pude testemunhar isso pessoalmente. Eu só posso fazer isso agora de forma anônima, por razões que eu espero fiquem claras" (ênfase acrescentada por Piper). Certamente ele não quer dizer o que ele parece inferir – que somente quando a pessoa ouve uma voz extra-bíblica como, "O dinheiro não é seu", você pode testemunhar pessoalmente que Deus ainda fala. Seguramente ele não pretende depreciar a voz de Deus na Bíblia que fala neste mesmo dia com poder, verdade, sabedoria, glória, alegria, esperança, maravilha e utilidade, dez mil vezes mais decisivamente que qualquer coisa que possamos ouvir fora da Bíblia.
 
Eu me aflijo com o que está sendo comunicado aqui. A grande necessidade de nosso tempo é que as pessoas experimentem a realidade viva de Deus ouvindo a Sua Palavra pessoalmente e de forma transformadora nas Escrituras. Algo está inacreditavelmente errado quando as palavras que nós ouvimos fora da Bíblia são mais poderosas e mais influentes para nós do que a Palavra inspirada de Deus. Clamemos com o salmista: "Inclina-me o coração aos teus testemunhos (Salmo 119:36)". "Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei (Salmo 119:18)". Que sejam iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e conheçais o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus (Efésios 1:18; 3:19). Ó Deus, não nos deixes sermos tão surdos à tua Palavra e tão indiferentes à Sua inefável excelência evidencial a ponto de celebramos coisas menores como mais emocionantes, e até mesmo considerarmos esse maravilhar-se completamente fora de lugar merecedor de ser impresso em uma revista de circulação nacional.
Ainda ouvindo a Sua voz na Bíblia,
Pastor John
 
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Fonte: Extraído de Desiring God Ministries
Tradução: Juliano Heyse (Centurio)
Obs: Todas as ênfases em negrito-itálico são minhas.
 
John Piper é pastor de linha reformada. Pastoreia a Igreja Batista Bethlehem, em Mineápolis, Minessota, desde 1980. Suas pregações e livros (alguns traduzidos pelas editoras Cultura Cristã, Fiel e Shedd) têm sido intrumento de Deus para edificação de Sua Igreja em várias partes do mundo. Esse presente artigo foi postado aqui, porque expressa fiel e belamente o espirito e inteção do Blog Spiritus et Littera. Visite seu site: http://www.desiringGod.org/

 
Sola Scriptura! Soli Deo Gloria!!!

 

10 de julho de 2008

AS SAGRADAS LETRAS



“Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.” - 2 Timóteo 3:12-15
Numa certa manhã, eu conversava com um amigo na varanda de minha casa sobre vários assuntos espirituais. O assunto ia se aprofundando cada vez mais como é comum acontecer entre os cristãos. Esse amigo, de uma igreja Cristã muito conhecida na cidade, começou a me relatar as suas diversas e extasiantes experiências místicas, algumas das quais eu mesmo presenciei. Ele me dizia como era indescritível estar cheio do Espírito, a incrível sensação de sentir o seu corpo como que levitando. Falou sobre o "sapatear no Espírito", o qual eu presenciei algumas vezes. O assunto se estendeu ao ponto de eu começar a questionar essas experiências que ele me relatava e as que eu presenciei em um "monte" quando todos oravam. Pessoas rodavam, algumas gritavam agudamente enquanto alguém impunha a mão sobre sua cabeça para, aparentemente, enchê-las mais do Espírito, outros se contorciam e alguns corriam de costas no meio do mato até caírem. Diante disso a minha palavra a esse amigo foi: "onde a Bíblia ensina isso ou ao menos relata algum exemplo de experiência igual a essas?" Ele me olhou e disse: "é porque você nunca experimentou!" Disse que eu estava questionando a ação do Espírito. Então a conversa foi sobre o que as Escrituras relatam e ensinam e o que a experiência humana determina. O tempo todo eu o indaguei sobre onde as Escrituras relatam experiências desse tipo. Onde nas Escrituras vemos pessoas se contorcendo sobre o poder do Espírito Santo? Onde nas Escrituras vemos um crente gritando aaahhhhH!!!, enquanto alguém ora para ele "se encher mais com o Espírito"? Em que lugar das Escrituras vemos pessoas correndo (mas correndo de costas) e se lançando ao chão? E as resposta dele e de muitos outros é sempre: "Você nunca experimentou, nunca viu como é bom!" E junto com essa resposta há sempre aquela clássica que já se tornou chavão: "a letra mata!". Ta aqui a resposta clássica para todo questionamento bíblico que fazemos a esse tipo de experiência e outras práticas que observamos no meio evangélico em nossos dias. Se algum irmão ou pastor questiona com base nas Escrituras alguma experiência boa para quem a experimenta, essa pessoa retruca: "a letra mata". Se algum irmão ou pastor ensina algo que realmente está nas Escrituras, mas que a pessoa discorda, não se agrada ou é contrario ao que ela foi ensinada a crer por anos, a resposta é a mesma: "a letra mata". Dessa forma, o texto do Apóstolo Paulo na sua segunda epistola aos Coríntios se tornou o protetor de muitas heresias, tradições e experiências humanas. É a arma com a qual se ataca qualquer um que questione ensinos e práticas sem real embasamento bíblico.

Paulo e a letra.
No entanto, quando fazemos uma leitura cuidadosa do texto respeitando o seu devido contexto, fica claro que essa aplicação descuidada está totalmente errada. Sem pretender dar um tratamento minucioso do texto, o fato é que Paulo, escrevendo inspirado por Deus, estava se referindo à lei de Deus dada a Moises por inspiração e escrita "com letra em pedras". Assim, Paulo, inspiradamente, chama a letra da lei de "ministério da morte" (2Co 3:7) e "ministério da condenação" (2Co 3:9), pois a "letra mata", ou seja, a LEI que foi escrita é incapaz de salvar o homem escravizado ao pecado, mas serve apenas para condená-lo, pois a lei exige a santidade e expõe os nossos pecados deixando o homem indesculpável diante da justiça perfeita de Deus. Isso fica mais claro ao lermos Romanos 2:12 que diz: "Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante a lei serão julgados." Romanos 3:19, 20 completa: "Ora, sabemos que tudo que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado." Romanos 5:20 diz mais: "Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa". E Romanos 7:9-10: "Outrora, sem lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito [da lei], reviveu o pecado, e eu morri. E o mandamento que me fora para a vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para a morte".


Mas será que por causa disso a lei é abolida ou a lei é algo ruim? Muitos, apressadamente, dizem quem sim. Paulo diz, enfaticamente, que não em Romanos 3:31: "Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei." E mais: "Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei" (Romanos 7:7). E em Romanos 7:12: "Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom."
Diante do exposto, podemos perceber que Paulo chama a lei de letra que mata, pois ela é incapaz de salvar qualquer ser humano. A lei de Deus embora seja, segundo Paulo, ‘santa, justa e boa’, é impotente para salvar, mas suficiente para condenar a todos nós que pecamos. A lei santa de Deus, não salva, mas condena. Isso por causa da escravidão do homem ao pecado.

Era à Lei e sob essa perspectiva, que Paulo se referia quando escreveu “a letra mata”. No entanto, ele não a estava invalidando nem a desvalorizando, pelo contrário: “Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo” (1 Timóteo 1:8). Nem Paulo e nem mesmo Jesus anularam a lei, basta lermos Romanos 3:31 “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei.” E Mateus 5:17 “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.” Mesmo que a letra da lei julgue e condene o homem ela é a Santa Palavra de Deus.

Certa vez, assistia uma pregação gravada em VHS na casa de uma irmã. Essa irmã, em certo momento, falou animadamente sobre o que aprendeu com outra irmã ali presente. Ela lia as Escrituras, e era como se, de repente, as letras saíssem ou voassem, só então ela via coisas que não conseguia ver antes. Não me admiro nenhum pouco do fato de que hoje, aquela (uma ex-espírita) que ensinou isso para ela em uma igreja evangélica esteja agora no candomblé; e a outra tenha deixado a Igreja. Infelizmente essa é a forma de leitura que muitos praticam das Escrituras. As letras saem ante os seus olhos e no lugar fica todo o tipo de invenção e imaginação projetadas pelo próprio coração do “leitor”. Isso é assim, pois, para esses, a “letra mata”, a letra é inútil.

O Espírito e a Letra
Mas Paulo diz a Timóteo algo diferente. Ele diz que Timóteo sempre conheceu as Sagradas Letras que podiam torná-lo sábio para a salvação. Nesse texto, Paulo não se refere apenas à lei, mas a toda Escritura. E ele não diz que ela mata, mas que torna o homem sábio. Fazendo justiça ao contexto, fica claro que ele em 2 Coríntios e em 2 Timóteo não está se referindo à mesma coisa. Em Coríntios, ele está falando da LEI de Deus que é incapaz de dar ao homem salvação pelas obras; em Timóteo, ele está falando de TODA ESCRITURA que pode tornar-nos sábios para a salvação. O que ocorre no meio das igrejas é que muitas pessoas não aprenderam a ler as Escrituras respeitando o contexto (a regra mais básica de interpretação) e, assim, fazem interpretações forçadas ou superficiais das escrituras aplicando-as de forma errada e, muitas vezes, para desculpar seus erros e práticas.

Porém, de fato, toda Escritura é inspirada por Deus. Elas são as Sagradas Letras que o Espírito Santo nos deixou para sermos sábios. E, para que isso ocorra, precisamos da iluminação constante desse mesmo Espírito para que nossos olhos sejam desvendados para as maravilhas de sua Palavra (Sl 119:18). Afinal de contas, a letra sem o Espírito não comunica vida ao homem que já está morto em seus delitos e pecados (Ef 2:1,5; 2Co 3:14). Por isso a intima iluminação do Espírito é fundamental. Mas, ao invés de desprezarmos a letra, como muitos fazem, devemos, como disse Jesus, saber que cada “i” ou “til” (Mt 5:18; Lc 16:17) é a Palavra de Deus, Santa, Autoritativa, Infalível e que se cumpri indubitavelmente. Os mestres devem se dedicar à leitura e exposição das Escrituras para que a igreja receba dela sabedoria divina (1Tm 4:13). Essas letras são sagradas, foram inspiradas pelo Espírito Santo, por meio dela recebemos a nova vida, a regeneração do Espírito (ver Tg 1:18 e 1Pe 1:23). Diferente do que muitos ensinam, o Apóstolo diz que as Sagradas Letras (aplicadas pelo Espírito) são suficientes “fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (1Tm 3:16-17; ver Sl 19:7). Em 1 João 2:5, está escrito: “Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus.” As Sagradas Letras são suficientes para a vida plena do cristão cheio do Espírito. Ah! irmãos, se Timóteo vivia em tempos difíceis e, se as seguintes palavras eram verdades para ele, muito mais ainda em nosso tempo: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Se a Igreja desconsidera ou abandona as Sagradas Letras para ir atrás de cada falso mestre e profeta que se levantar em nosso meio, falando o que o homem se agrada de ouvir e ensinando fábulas e ilusões de seus próprios corações, ela está traindo o Espírito Santo. Ao invés disso, devemos ouvir o Espírito Santo falando nas Escrituras e pelas Escrituras. Esse é o tema e propósito desse blog. As Sagradas Letras nos tornam sábios, pois nos conduzem a Cristo Jesus, o Verbo Eterno.

Ah!! que oração e confissão bela a do salmista no Salmos 119:96:
“Tenho visto que toda perfeição tem seu limite; mas o teu mandamento é ilimitado.”

DESCRIÇÃO DO BLOG SPIRITUS ET LITTERA

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SPIRITUS ET LITTERA
[O Espírito e a Letra]

Este blog visa divulgar meditações e artigos de natureza bíblico-reformada. O ensino central que norteia nossa fé e ensino é que Deus fala ainda hoje com o homem com a mesma autoridade com que falou aos profetas no passado.

No entanto, negamos tenazmente, tanto o misticismo daqueles que desprezam a Escritura (a letra) e acreditam em novas revelações diretas do Espírito; como o racionalismo humanista daqueles que desprezam o Espírito e não acreditam na necessidade da Sua iluminação espiritual para compreensão profunda e salvífica de Sua verdade na Escritura.

Deus nós fala hoje quando seu Espírito Santo abre o nosso coração e ilumina-o para compreender a Sua Palavra já revelada e registrada nas Escrituras Sagradas. O Espírito fala ao homem, mas negamos que essa comunicação seja algo meramente místico e subjetivo.

O Espírito inspirou homens no passado para escreverem a Sua Revelação em letras humanas, hebraico e grego. Essa é a Sua Palavra, essa é a Sua Voz, Deus fala! Não há mais outro meio qualquer de Revelação a não ser as "Sagradas Letras". Contudo, embora essas letras sejam de fato inspiradas por Deus, e por isso são inerrantes e autoritativas para a vida do homem, sem a ação de Seu autor, o Espírito Santo, elas serão mera letra morta, sem poder e eficácia para a vida do leitor, servindo apenas para a sua condenação.

Portanto, cremos e confessamos que deve haver a ação conjunta entre o Espírito Santo e as Sagradas Letras das Escrituras para que o homem realmente escute a voz viva de Deus. Nem o Espírito sozinho e nem a Letra sozinha falam ao homem, mas o Espírito e a Letra, Spiritus et littera!

Sola Scriptura!