"Tu incitas [ao homem] para que sinta prazer em louvar-Te; Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti." (Agostinho)

29 de julho de 2008

A IGNORÂNCIA DAS ESCRITURAS E A SEDUÇÃO DOS FALSOS PROFETAS

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"Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.

Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais." (2Co 11:3-4)
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O Senhor Jesus, antes de iniciar seu ministério público, foi conduzido pelo Espírito ao deserto “para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1). Note que foi o próprio Deus, o Espírito Santo, quem o conduziu ao deserto com essa finalidade. Ao contrário do que muitos imaginam, Jesus não sofreu apenas três tentações, mas diz o texto de Lucas (4:2): durante quarenta dias sendo tentado pelo diabo.” Ou seja, durante todo o tempo, quarenta dias e noites, Jesus foi tentado. Mas aprouve ao Espírito Santo que ficasse relatado para nós apenas as três últimas.

Penso que essas três tentações têm muito a nos ensinar. Vemos nos textos que narram a tentação de Cristo, que Satanás de fato tenta-nos para que não façamos a vontade de Deus, mas a sua vontade. Mas vemos também que a tentação de Satanás é usada soberanamente pelo próprio Deus. Deus nos prova e, para isso, Ele usa até mesmo a Satanás. Deus é Senhor de tudo. “Ele é o cabeça de todo principado e potestade.” (Cl 2:10b) Os caminhos de Deus são misteriosos, ocultos a nossa compreensão: “Verdadeiramente, tu és Deus misterioso, ó Deus de Israel, ó Salvador.” (Is 45:15) Deus se utiliza de tudo para os seus santos e justos propósitos, “Pois até a ira humana há de louvar-te” (Sl 76:10). (confira 1 Samuel 18:10 e 1Reis 22:19-24.)
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O que é interessante em todas as tentações de Satanás, é que, em todas elas, ele instiga Jesus a fazer uso indevido do poder Divino para o Seu próprio benefício humano. Há quem afirme que, com isso, Satanás estava oferecendo um caminho alternativo para Jesus, um caminho que não o levasse ao sofrimento e a cruz. Não sei o quanto dessa inferência pode estar certa, pois o texto não nos diz nada além das próprias narrativas das tentações, mas o fato é que se Jesus aceitasse as propostas satânicas, isso seria uma desobediência flagrante a Deus e uma obediência a Satanás, semelhante a Adão e Eva. Assim, o segundo Adão (1Co 15:45-49) teria fracassado como o primeiro Adão.

Mas o interessante é como Satanás sempre tenta contradizer as Palavras de Deus. Ele enganou Eva contradizendo flagrantemente as ordens de Deus de não comer do fruto da árvore e disse que eles não morreriam se comessem. Mas com Jesus, podemos notar na última tentação (segundo o relato de Lucas), que Satanás foi bem mais sutil, afinal de contras, Jesus era um adversário muito maior e já havia resistido a todas as demais tentações durante quarenta dias. Satanás, então, usa a própria Palavra de Deus para tentar a Jesus. Satanás pega um texto isolado das Escrituras e o aplica de uma forma absoluta e incondicional. Realmente essa, ao meu ver, foi a mais difícil de todas, pois Satanás usa as próprias Palavras inspiradas de Deus (
Sl 91:11-12) e as lança contra o Senhor Jesus a fim de tentá-lo. Mas Cristo vence, como venceu as demais: ‘manejando bem a palavra da verdade.’ (2Tm 2:15).

Porém, o que temos visto hoje em dia nas igrejas, é que multidões são apanhadas por Satanás nessa última tentação. Pregadores se levantam dizendo falar da parte de Deus e citam versos isolados das Escrituras. Satanás dá de presente aos cristãos e “cristãos” caixinhas de promessas onde a Bíblia é retalhada em pedaços, textos são tirados do seu contexto e propósitos iniciais e são oferecidos ao povo que os aceitam sem o menor discernimento. Afinal de conta, é muito mais fácil ler um verso numa caixinha de promessas do que ler textos inteiros da Bíblia em seu devido contexto. Penso que muitos, no dia do juízo, terão uma grande surpresa que a “caixinha de surpresa” não lhes disse, pois, os textos de juízo, também são uma promessa de Deus para os ímpios que deturpam as Escrituras, mas que as “caixinhas de promessas” não têm. (ver 2Pe 3:16-17).

Pregadores se levantam em todos os lugares e igrejas com textos que viraram chavões como: “Tudo posso [ter o melhor emprego, melhor salário, carros, casas...] naquele que me fortalece.” (Fl 4:13) Prometem riquezas, vida tranqüila, sem doenças... para isso basta comprar as “indulgências protestantes” do “papa Edir Macedo” e seus cardeais e Cia-Ltda. Assim diz Pedro: “também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias [discimuladas, fingidas]; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.” (2Pe 2:3) E Paulo diz: “...homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro. De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (1Tm 6:5)

Esse foi apenas um exemplo de deturpação das Escrituras Sagradas. Seria impossível descrever e refutar todos os disparates que os tais profetas, bispos e apóstolos têm ensinado e prometido ao povo em nome de Deus como se estivessem na Palavra. Prometem o que a Bíblia não promete e proíbem aquilo que ela permite. Mas, muitos, movidos pelos próprios desejos do seu coração enganoso, ouvem o que querem ouvir, pois é do agrado dos seus ouvidos (1Tm 4:3). Muitos, movidos por amor ao dinheiro são pegos pelos exploradores da fé. Outros, que vivem atrás das experiências místicas, são apanhados por todo tipo de excentricidade que daqueles que lhes prometem uma “experiência espiritual”. A Igreja Evangélica precisa acordar desse sono terrível e perceber que isso que tem sido oferecido não é o evangelho de Cristo, nem a Palavra de Deus. A Igreja Evangélica precisa começar a questionar a “infalibilidade papal” desses pretensos pastores, bispos, profetas e apóstolos que torcem a Palavra de Deus e implantam todo tipo de tradição humana. Só porque um texto citado por alguém está na Bíblia, não significa que a aplicação desse texto esteja certa e condizente com o restante das Escrituras.

O que acontece hoje em dia, é que, quando questionamos um ensino, profecia ou práticas, muitos atiram aquela frase em nosso rosto: “cuidado com a blasfêmia contra o Espírito Santo!” Uma aplicação descuidada e fora de contexto do que Jesus ensinou sobre a verdadeira blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt 12:31). Esse texto não pode ser usado pela Igreja para acolher heresias e acobertar falsos profetas e milagreiros. A Igreja tem que pôr a prova os espíritos (1Jo 4:1) que falam através de falsos profetas. Mas as pessoas têm andado tão extasiadas pelas experiências místicas e fantásticas e as palavras empolgantes de muitos pregadores que não julgam mais nada. Aceitam tudo que lhes é oferecido, desde que a promessa seja boa ou o pregador seja eloqüente.

Digo mais, a Igreja Evangélica, assim como aconteceu com a Igreja Católica Romana, tem caído sobre a tentação de Satanás. Deus tem provado o seu povo e esse tem sido reprovado. Em Deuteronômio 13:1-5 está escrito: “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos achegareis. Esse profeta ou sonhador será morto, pois pregou rebeldia contra o SENHOR, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para vos apartar do caminho que vos ordenou o SENHOR, vosso Deus, para andardes nele. Assim, eliminarás o mal do meio de ti.”
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Eu sempre achei esse texto intrigante. Isso porque ele vem antes de Dt 18:20-22, onde diz que, falso profeta, é aquele cuja palavra não se cumpre. Ou seja, o primeiro critério para se identificar um falso profeta não é aquele cuja palavra não se cumpre, mas aquele cuja palavra se cumpre, mas com o seu ensino (promovido pelo sinal e prodígio) contradiz ou ensina algo contrário aquilo que Deus já revelou anteriormente em sua Palavra. Interessante também, é que o texto afirma que é o próprio SENHOR (Javé) quem está provando o seu povo. Os sinais e prodígios na Bíblia sempre tinham a função primária de autenticar e chamar a atenção do povo para um profeta. Foi assim no AT e no NT com Jesus e os Apóstolos (At 2:22 e 4:29-30). O texto de Dt 13:1-5 não explica se o sinal ou prodígios são verdadeiros ou falsos (verdadeiros apenas aos olhos de quem observa credulamente), mas diz claramente que é Deus quem permite ou decreta que isso ocorra para servir de prova (teste) ao povo. Em 2 Tessalonicenses 2:9-12 diz: “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça.” Esse texto também diz que é Deus quem determina que os falsos profetas (aqui o anti-cristo) surjam, façam sinais e prodígios a vista de muitos. Aqueles que ao invés de prestarem atenção a Palavra Revelada e Escrita de Deus, mas sempre são movidos pelo afã do sobrenatural, gostam de ver milagres e onde tem um sinal eles correm atrás deixando a Pura Verdade de Deus na Bíblia. Esses serão julgados e condenados, porque não foram aprovados, não passaram no teste, não eram eleitos. É isso que tem ocorrido no meio cristão. O povo vai atrás dos milagreiros, dos falsos sinais e prodígios e crêem nos falsos profetas sem o mínimo de discernimento para avaliar cuidadosamente se os ensinamentos deles estão de fato nas Escrituras Sagradas. Mas preferem a mentira que é mais fantástica e extasiante. “Como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia”, assim também muitos são corrompidos na sua mente e se apartam da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Só porque um pregador tem nome de evangélico, diz ser pastor (se bem que pastor já não tem mais valor. O agora está na moda e impõe respeito são os títulos indevidos de profeta, bispo e apóstolo), usa a Bíblia, fala em nome de Jesus... ai, todos acreditam e seguem. As coisas não são mais julgadas pela sua essência, mas pela aparência e rótulos. Eu nem tenho mais coragem de falar a vontade que sou evangélico, porque tudo tem cabido nesse rótulo, tudo que surge e é inventado de mais extravagante é "evangélico" e ninguém questiona a essência, pois só vivem de rótulos e aparência. Pregam “outro Jesus”, com um “espírito diferente” em um “evangelho diferente” e as pessoas “de boa mente o” toleram simplesmente porque usam as mesmas palavras (Jesus, Espírito, Evangelho, Igreja, Bíblia, Evangélico...), mas com significado e conteúdo diferente ou deturpado. A Igreja Evangélica tem falhado em examinar “as Escrituras todos os dias para ver se as coisas são, de fato, assim.” (At 17:11) A Igreja tem aceitado todo tipo de caricatura do evangelho genuíno, apenas porque se parece com o evangelho. O povo não tem tido discernimento para avaliar as coisas profundamente e pela sua essência. O coração cheio de desejos deturpados e egoístas do povo tem sido preza dos falsos mestres e profetas. Deus tem provado, Deus tem mandado a operação do erro com prodígios e sinais e a “igreja” tem ido atrás dos falsos mestres que falam o que gostam de ouvir e serão julgados se não voltarem para a “simplicidade e pureza devidas a Cristo.”

Mas, em tudo isso, permanecem as belas e consoladoras palavras do Senhor Jesus:

“...surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito.” (Mt 24:24-25)

“Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora. Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz; mas de modo nenhum seguirão o estranho; antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. (...) Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim... Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. (
Jo 10:2-5, 14, 26-28)

Sola Scriptura! Solus Christus!
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Pb. Anderson J. F. Abreu

Um comentário:

Rev. Ageu Magalhães disse...

Caro Sem. Anderson, parabéns pelo blog e pelos seus escritos. O mundo evangélico está precisando mesmo de crentes que não se dobram aos "manjares" dos últimos dias. Abraço, Ageu.